terça-feira, 15 de setembro de 2009

Sem Antonio Olinto, um ministro da cultura afro-brasileira


Arthur Poerner


Mesmo com a vitória do Flamengo, o fim de semana ficou triste com a morte do querido amigo Antonio Olinto, com quem passei o último réveillon aqui pertinho do Leme, na casa de um amigo comum, o jornalista e escritor João Lins de Albuquerque. Com a alegria de sempre, assistimos à explosão dos fogos, já nos preparando para revê-lo, como no ano anterior, desfilando no Sambódromo, este ano pela Mocidade Independente de Padre Miguel.

Depois disso, seria só esperar o momento de correr para o grande e carinhoso abraço dos seus 90 anos, que completaria em 10 de maio. Outro amigo comum, o Muniz Sodré, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, chegou a preparar bela saudação para a festa adiada pela internação hospitalar, que surpreenderia Olinto ativíssimo como sempre, na Academia Brasileira de Letras, no PEN Clube, na União Brasileira de Escritores e noutras entidades, escrevendo para o Jornal do Brasil, Jornal de Letras, etc. Por toda essa força vital que nunca lhe faltara, foi preciso que este último domingo nos convencesse, afinal, de que a festa dos 90 anos não fora apenas adiada.

Antonio Olinto, de quem me tornei amigo via Jorge Amado no exílio em Londres, onde era adido cultural, fez muito pela irmandade afro-brasileira – e não só nos anos em que exerceu a mesma função na Nigéria. Sua obra considerada mais importante é A casa da água (1969), a primeira da trilogia afro-romanesca que completou com O rei de Keto e Trono de vidro. Foi, sempre, um incansável estudioso da cultura e dos cultos africanos, sobretudo dos iorubás, o que contribuiu para que mãe Senhora (Maria Bibiana do Espírito Santo), a grande ialorixá que dirigiu o Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, de 1938 a 1968, lhe conferisse o título de Obá, ministro de Xangô – sem dúvida, a honraria de que ele mais se orgulhava. Talvez porque consciente do caráter ministerial da sua função permanente e vitalícia: a de ministro da cultura afro-brasileira. Kauô Kabiecilé !