sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer, um dos maiores brasileiros de todos os tempos


                                                                                                     


                  
                                                    (Para Vera Lúcia)
     

      No próximo dia quinze, como há muitos e muitos anos, excetuados os do exílio, eu felicitaria o Oscar por mais um aniversário, e ele, como sempre, engrenaria um bom papo. Eu ficaria de ligar para marcarmos almoço ou jantar, mas nunca tive coragem para apropriar-me de mais tempo ainda do pouco que lhe restava. Às vezes, eu seria surpreendido, como às 21h de um dos últimos, imediatamente pré ou já pós-centenário, por um dos seus assessores: - “Ele pede que o senhor volte a ligar daqui a uma hora, porque está finalizando um projeto”. Apesar da idade, não deixava de produzir nem à noite da data natalícia. Acredito que seja um feito mundial inédito. De um sonhador genial que até samba fez.
      Mas, Oscar jamais se preocupou com façanhas ou livros de recordes, muito menos com homenagens e honrarias. Queria apenas viver a sua vida de marxista coerente no amor ao seu povo e ao seu trabalho, para quem a prática era o critério da verdade. Dialético em tudo que fazia e vivia, um mestre da invenção e da criatividade ou, como dizia o Darcy Ribeiro, nosso amigo comum, “uma força da natureza”.
     Conheci-o em meados dos anos 60, quando me procurou na redação do Correio da Manhã para que o ajudasse a resolver um problema: teria que estar em Genebra no dia seguinte, na inauguração de um congresso do Conselho Mundial da Paz, mas não poderia viajar – leia-se: amarelara, mais uma vez, na iminência de um vôo – e esperava que eu, colunista de diplomacia e política externa do jornal, com os contatos no Itamarati e no corpo diplomático, pudesse fazer chegar à Suíça pelo menos o seu discurso, o que acabamos conseguindo com as boas graças de uma prestimosa aeromoça da Swiss Air. Foi o início de uma longa amizade, que se solidificaria nos almoços e jantares no Lucas, ali pertinho do seu escritório da Atlântica, nos reencontros em Argel, onde criava a Universidade de Constantine, e pela vida afora.
     Dos últimos encontros, ficaram na lembrança a festa do centenário, na bela Casa das Canoas, no Joá, e as duas vezes em que fui entrevistá-lo: para o Jornal do Brasil ou para OPasquim21, com o Ziraldo, e para o filme “O eterno poder jovem”, do Jesus Chediak. Ano passado, fui à comemoração dos 104 anos, mas o elevador, talvez mais antigo do que o homenageado, simplesmente enguiçou, e os dois infartos no meu prontuário vetaram a subida pelos degraus até o 11º andar. 
     Tinha, entre tantas qualidades, uma que me tocava bem de perto: a preocupação com a precisão na linguagem. Enio Silveira, da Civilização Brasileira, nosso editor dos anos 60, certa vez me disse que Oscar seria um dos grandes escritores do país, se a arquitetura não monopolizasse todas as suas energias e todo o seu tempo disponível.
     Guardarei sempre as melhores recordações dos nossos encontros. Estivemos sempre do mesmo lado político, nas lutas e campanhas democráticas, inclusive contra a ditadura. E o seu exemplo de marxista consequente, lúcido e firme, sem jamais deixar de ser um humanista, fortaleceu as minhas próprias convicções. Era, enfim, uma dessas raras pessoas que, num primeiro e desavisado momento, até espanta que também sejam mortais. Estou com a atriz Marília Pêra: - “O Niemeyer era a minha esperança de imortalidade”.
     Com as minhas mais sentidas condolências para a Vera Lúcia, os familiares e a legião de amigos que soube cultivar.

       
                                                                             Arthur Poerner


     Fotos de um dos nossos últimos encontros, em 2007, quando fui entrevistá-lo para o filme “O eterno poder jovem”, de Jesus Chediak:










                                         Fotos de 2007, na festa do centenário  





11 comentários:

Miramar disse...

Miramar 7 de dezembro de 2012 01:10

Para: Arthur Poerner
Belo texto, bela homenagem!! adorei.
Beijos.
Miramar

Eliana Madeira disse...


Eliana Madeira 7 de dezembro de 2012 10:22
Para: Arthur Poerner

Ficou bom, veja em vermelho que falta um u.

Bj

ARTHUR POERNER disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Henrique Perazzi de Aquino disse...

caro Arthur
Muito bom. Havia lido no seu blog.
Não sei se já viu o que escrevi sobre o encontro que tivemos lá na Festa Cubana, pouco antes do Natal. Está colado abaixo para sua apreciação e considerações.
Espero te reencontrar em breve, quando levo um dos seus livros que tenho aqui para o devido autógrafo.
Abracitos bauruenses do
Henrique Perazzi de Aquino -

Regina Suely Costa Coutinho disse...


Olá, Poerner.
Feliz 2013!

Obrigada por me presentear com essa maravilha de texto.
Realmente, o Oscar Niemeyer, deixou a sua marca, fez a diferença, na vida dos brasileiros: por suas ideias, suas obras e sua personalidade simples, mas brilhante.
Um grande abraço.
Regina Suely

Marcus Vinicius disse...

Marcus Vinícius
23:58 (21 horas atrás)

para mim
Olá Camarada,
Belo texto sobre Niemeyer. E uma coincidência recebê-lo hoje, é que a tarde falei ao telefone com Noca da Portela, conversávamos sobre nossa a maltratada Escola, citei que havia encontrado você e ele me pediu que lhe passasse o seu número (9941-7765) por sentir falta do amigo.
Juliana aqui manda lembranças.
Vamos manter contato.
Um forte abraço,
Marcus

Sérgio Carvalho da Cunha Motta disse...

Sergio Carvalho Cunha da Motta
08:57 (12 horas atrás)

para mim
Muito obrigado caro Poerner.

Bela homenagem ao grande Oscar.

Abraços,

Jesus Chediak disse...


Jesus Chediak
10:21 (10 horas atrás)

para mim
Poerner, meu caríssimo amigo,

Essa sua despedida de Oscar Niemeyer é pequena em número de palavras, mas imensa em significado. Você, sem dúvida, mesmo citando Lênin, é um intelectual orgânico que honraria Gramsci e orgulha a nossa geração. E, ainda, como sempre, tem o dom de falar carinhosamente de seus amigos e a generosa capacidade de cultivar amizades. Esse dom, unido ao seu brilhante texto dá um um prazer singular em ler o que escreve.

Fiquei feliz com a sua referência ao nosso "Eterno poder jovem".

Abraço carinhoso,

Jesus

Ivan Alves Filho disse...



Ivan Alves Filho
11:06 (9 horas atrás)

para mim
Obrigado, Poerner. Já encaminhei o seu excelente texto aos companheiros da revista.
Abraços saudosos,
Ivanzinho.

Roberto Amaral disse...

Roberto Amaral
16 jan (2 dias atrás)

para mim
Caro amigo
Peço sua autorização para postar seu belo artigo em meu sítio (www.ramaral.org).
Saudações socialistas,
Roberto Amaral

Maria Salete Cobe disse...

Salete Lobe
26 jan (2 dias atrás)

para mim
Bom Dia Arthur,

Ao abrir o meu note dei com a tua resposta ao e-mail que eu havia te passado.
Gostei muito do texto que enviastes à esposa do dr Niemeyer, onde demonstras o respeito e carinho quanto à perda de um grande ícone da arquitetura. Embora foram poucas as oportunidades que tivestes desfrutando da companhia de uma pessoa tào carismática, creio que ficaram gravados em tua memória a consideração por um amigo tào especial.
Estou indo à Camboriú agora cedo e nào posso me alongar muito, mas em contato com um primo meu( Dr Laércio Silva) que é amigo particular do Dr Antonio Carlos Konder Reis, pude conseguir apenas o telefone dele. Ele mora na praia de Penha (SC )e passa a maior parte do tempo lá. Há anos atrás o visitei com uma amiga minha e tive a oportunidade de desfrutar de uma agradável visita.
Estando sempre ao teu dispor para qualquer informação desejo que 2013 te seja um ano de muita saúde, paz e muitas venturas.
Abraços cordiais
Maria Salete