domingo, 16 de novembro de 2014

Um pouco de gurufim para Leandro


      Ao falar do importante pensador que acabamos de perder, não se pode omitir o seu pai, o médico sanitarista catarinense Valério Konder, expoente do PCB que acumulou uma vintena de prisões políticas desde o Movimento da Aliança Nacional Libertadora de 1935, a última delas, pouco antes da morte, durante a ditadura militar, que já o havia privado dos direitos políticos. Conheci antes o Valério, argumento de que se valia o Leandro, naquele seu eterno jeito brincalhão, para inverter a nossa diferença de idade: "O Poerner é mais velho do que eu. Era amigo do Papai, que  nos apresentou".
      Já no nosso exílio alemão, como ele era o que, à época, chamávamos de boa-pinta, num país em que nós, brasileiros, parecíamos ter boa aceitação entre as liberadas nativas, numa ocasião em que a discussão do nosso grupo ameaçava deixar o amplo espaço do marxismo para degenerar na distribuição de pechas de 'mulherengo", o Leandro soube se acautelar e poupar outros visados ao decretar, em solene tom filosófico: "Mulher da gente só se conta a partir de um ano de coabitação". Foi um alívio generalizado entre os 'galinhas' presentes
      Ainda a título de gurufim, aquela saudável prática de comunidades negras não só no Rio, mas também em São Paulo, de amenizar a tristeza dos velórios, homenageando os mortos com brincadeiras, cantos e danças, não posso esquecer do apelido dado ao Leandro e ao Carlos Nelson Coutinho, filósofo baiano que foi seu parceiro de estudos por quatro décadas, ambos entusiásticos admiradores da obra do filósofo e político marxista e humanista húngaro György Lukács: os "Aprendizes de Lucas". Não lembro se a autoria, com a alusão à homônima escola de samba, foi do Maurício Azêdo ou do Sérgio Cabral pai, mas a gozação saiu do nosso grupo de jornalistas da resistência à ditadura, no qual os arroubos marxistas não arrefeceram a paixão pelas escolas, em que alguns, inclusive, desfilávamos nos carnavais.

Arthur Poerner


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