segunda-feira, 4 de maio de 2009

Grande perda

Arthur Poerner

4 maio 2009


Com a morte, no último sábado, do dramaturgo e diretor de teatro Augusto Boal, perdemos – não só o Rio, onde nasceu, em Bangu, em 1931, e foi vereador pelo PT, e o Brasil, mas, também os mais de 50 países que adotaram o seu Teatro do Oprimido – um dos mais legítimos intelectuais públicos e orgânicos (na acepção do filósofo e político italiano Antonio Gramsci) do mundo.

Conheci-o no exílio, à época em que Chico Buarque o informava do Brasil, na conhecida mensagem musical, “que a coisa aqui tá preta”. E viajamos juntos algumas vezes, com o Apolonio de Carvalho, para falar do nosso país – sobretudo, para denunciar as violências da ditadura e pedir apoio à luta pela anistia – na Suécia, Dinamarca e Portugal.

Obtida a anistia, desfilamos com a União da Ilha no ‘Barco da volta’, o carro alegórico que fechou um desfile da escola no Grupo Especial – não lembro o ano. No Sambódromo, nos limitamos a cantar o politizado samba-enredo, mas voltamos a compor mesa para falar - pela última vez, já no Brasil: sobre arte engajada e solidária, num ciclo de debates promovido no IFCS/UFRJ pelo Instituto Solidariedade Brasil, a convite do ex-prefeito e ex-senador Roberto Saturnino Braga.

Sempre que se vai um companheiro desse nível cultural, político e humanístico, a emoção e a tristeza que sinto vêm mescladas com a consciência de que aumenta a responsabilidade de levar avante as boas lutas pela democracia.



1990, Boal, Poerner, Minc e Beth Carvalho no protesto contra o ataque de Collor à cultura

5 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

6 de maio de 2009 21:22
De: Affonso Arinos de Mello Franco Para: Arthur Poerner

Meu caro Poerner
sinto-me solidário com o seu sentimento de grande perda pela morte do Boal. Fiquei bem próximo dele desde que nos dirigiu em um despretensioso musical entre amigos amadores, o Chuveiro Iluminado. Graças ao Boal, acabamos cantando até em Paris, imagine. Isso há dez anos. Acho Boal o maior, mais imaginativo, mais criador, mais original, mais corajoso dentre os nossos homens de teatro. Um guerreiro, na mais pura acepção da palavra. Com o Teatro da Arena, defendeu a liberdade aqui dentro, enquanto pôde. Depois, foi defendê-la no mundo, com o Teatro do Oprimido.
Abraço do amigo
Afonso Arinos.

Anônimo disse...

5 de maio de 2009 20:58
De: Roberto Saturnino Braga
Para: Arthur Poerner
Realmente, Poerner, uma enorme perda sofremos nós brasileiros e outros de tantos países por onde andou nosso Boal deixando a sua marca criadora, como você diz no seu belo texto.
Que bom que você lembrou o debate promovido pelo ISB no ano passado, ao qual tanto você como ele acorreram com o mesmo espírito de solidariedade.
Abraço fraterno, Saturnino.

Anônimo disse...

Matérias importantes sobre a grande mídia
14 de maio de 2009 20:02
De: Sérgio Muylaert
Para: Arthur Poerner

IMBATÍVEL Poerner, em sua sensbilidade e mapeamento sutil, realidade viva, tomei liberdade para repassar os textos, sem a sua cumplicidade.
Tomei-os para o meu arquivo.
Em breve concluo o meu 'Diário de Impressões', com o bolor impuro das masmorras.
Ontem estive em Brasília com o C. Lungaretti. Lembrei de imediato do 'tio Cenourinha', em silêncio, por reflexo,
Lembrei do seu antológico nas proundas do inferno, medida por medida.
Feliz por sua lembrança em me dar notícias que as recocheteio.
Saudades,
Abs fraternos,
Muy,

Anônimo disse...

Bsb, 14.5.2009.

Estimado Arthur Poerner,

Esta notícia da morte do Boal me entristeceu. Eu não o conheci pessoalmente. Mas o admirava muito, desde que assisti, encenada pelo Teatro de Arena, aí no Rio, à peça Revolução na América do Sul. Infelizmente a morte existe mesmo: de vez em quando a morte de alguém nos lembra isso. Padre Vieira (desculpe a digressão) disse que a gente, deslembrado da fatalidade, vive como se fosse viver eternamente.

Abraço fraterno do
Alaor Barbosa.