quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

"Leme: viagem no tempo ao fundo da noite" n'O Globo' de hoje

 

O Leme, pelo avesso

Livro do jornalista e escritor Arthur Poerner conta a história e as histórias do bairro

O carioca Arthur Poerner conhece a fundo sua cidade

Nelson Vasconcelos

nelson.vasconcelos@oglobo.com.br

E o Leme? Não há quem desgoste do Leme. Espremido entre o mar e a montanha, resume o Rio em suas manhas, manias, graças e problemas. O que, naturalmente, costuma despertar paixões pelo bairro. E um de seus mais enamorados moradores é o escritor e jornalista Arthur Poerner, que acaba de lançar "Leme — Viagem no tempo ao fundo da noite" (Ed. Booklink). Não é guia da boemia, como pode parecer pelo título. Mas a noite do Leme está lá presente, claro, não fosse Poerner uma daquelas lendárias figuras que viram a madrugada pelo avesso — geralmente na Fiorentina, a mais famosa referência do bairro para os forasteiros.

O Leme, no entanto, está longe de ficar resumido a um endereço. É o que mostra Poerner, na sua prosa fácil e o bom humor que caracteriza o carioca dos bons tempos. Algumas histórias são antológicas. Como a do Marinus Castro, que certa vez chegou ao seu apartamento e encontrou nada menos que um cavalo na sala. Cavalo branco, de verdade, não um delírio etílico. Detalhe: Marinus morava num sétimo andar. Como pode um negócio desses? Poerner explica.

O livro tem disso: entre os causos que o jornalista vai tirando da cartola, vai se desfiando a história do bairro e, por extensão, do próprio Rio. Diz-se, aliás, que D. Pedro II fez piquenique nas areias do Leme. Era só o começo da fama. Aos personagens anônimos, desses que fazem a vida de qualquer bairro, vão se juntando nomes conhecidos do carioca, de Ataulfo Alves a Ziraldo, passando por Beth Carvalho, Cartola e todo um abecedário de notáveis que foram parar no Leme. Invariavelmente, tendo ao lado Poerner, que vive no bairro desde a década de 80, depois de nove anos no exílio.

A propósito, sempre atento a questões sociais que envolvem a vida do país, Poerner não se furta a comentar o tráfico no bairro e deixa claro: a única maneira de evitar que o mal vença é unir as diversas camadas sociais que dividem o mesmo espaço, promovendo uma harmonia de contrastes, como diz o jornalista.

Enfim, eis aí uma ótima leitura, daquelas que deixam a gente com esperança de que o Rio ainda tome jeito.
                                                                            

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010