Por ganhos bem maiores que as perdas em 2013 !
Mesmo sem Zuleika, Oscar e Irun
Antes de se completar o primeiro mês sem o
talento, a criatividade e a paixão pela vida, pelo trabalho e pela justiça
social do Oscar Niemeyer, mais dois companheiros de campanhas democráticas se
foram, quase na virada do ano: Zuleiza Alambert, aos 90 anos, e Irun Sant’Anna,
aos 96, ambos, como o Niemeyer, militantes comunistas, gente de muito caráter,
firmeza e humanismo.
A longevidade me parece ser – obviamente,
em períodos sem guerras ou ditaduras -uma das características, assim como das
recompensas, dos que não combatem por interesses menores, pessoais e
oportunistas. As grandes causas democráticas são sempre corridas de fundo, que
exigem, além de formação e coerência culturais e ideológicas, paciência e
persistência. Em compensação, os que resolvem encará-las nunca ficarão sem ter
o que fazer, jamais serão inativos nem fenecerão, como ocorre com tantos depois
que se aposentam.
Zuleika e Irun viveram assim, na mesma
linha do Oscar. Com ela tive poucas vezes, nos meus tempos de Partido Comunista
Brasileiro (PCB), na resistência à ditadura. Do médico Irun tive a honra e o
privilégio de ser amigo, pois era, como eu, ligado à história da União Nacional
dos Estudantes (UNE), o remanescente dos que a fundaram há mais de 75 anos.
Aliás, o derradeiro ato político de que participou foi, em 12 de agosto
passado, o lançamento da pedra fundamental da nova sede da entidade, no
histórico endereço da Praia do Flamengo, 132. Não pude comparecer, mas
estivéramos juntos na passeata que culminou, em 1º de fevereiro de 2007, na
retomada do terreno.
Só mesmo falências múltiplas dos órgãos
para deter essas caminhadas, que aqui no Brasil, apesar de todos os avanços e
conquistas das três últimas décadas, ainda terão que se multiplicar e
generalizar em muitos outros pés e cabeças para que alcancemos uma democracia
digna deste nome. Só quando preconceitos como, por exemplo, os de cor e de
gênero, deixarem de se manifestar nas diferenças salariais, quando as reações,
inclusive da grande mídia, à presença de negros à frente de ministérios ou
poderes da República não forem mais de maldisfarçado espanto, e as passeatas
gays tiverem perdido todo o sentido, tal como as queimas de sutiãs das
pioneiras feministas, estaremos nos aproximando da linha de chegada. Ainda há
muito chão pela frente...
Que 2013 seja um ano de fortalecimento e
consolidação da democracia no Brasil e no mundo, de progresso e evolução
coletivos e individuais para todos. Com a concretização dos melhores sonhos de
Zuleika Alambert, Irun Sant’Anna e Oscar Niemeyer, mas com o mínimo de perdas
como as que eles passaram a representar com as suas partidas. São os meus
votos.
Arthur Poerner
Irun prestigiou a noite de autógrafos da 3º edição Brasileira do meu romance Nas profundas do Inferno no Lamas, em 17.12.2007. Foto Flávio Pacheco