sexta-feira, 31 de julho de 2009

Prefácio da 2º edição de 'Leme: Viagem ao fundo da noite', com lançamento previsto para 1º de outubro, dia dos meus 70 anos, na 'Fiorentina'

31 de julho de 2009 17:16

Arthur,

Não terei como lhe agradecer por essa grande honra que vc está me conferindo. Como sempre, faço minhas coisas com muita fé. Nossas formas de crer são bem parecidas por sinal. Alguma entidade está guiando esse projeto, não sei qual. O livro fará o bem a muita gente. Nossa missão é fazer bem feita nossa tarefa e pensar em Deus acima de tudo.

Forte abraço, Companheiro!

Álvaro





O Leme de Poerner


O convite feito a mim para prefaciar este livro foi mais uma audaciosa atitude desse humanista que nos ensina que juventude independe da questão etária, o que eu chamo de “forma poerniana de permanecer jovem”. O Leme, na sua segunda edição, além de novas e surpreendentes revelações, leva ao leitor, instrinsecamente, a mensagem de que um mundo mais igualitário pode estar pertinho de nós; contudo, para ser visto e entendido, depende do deslocamento das nossas lentes. Quem já viu o Leme aqui do alto da Babilônia e Chapéu Mangueira ? Quem já pensou nosso bairro a partir da favela ? Podemos estar muito próximos ou distantes, morando no mesmo lugar.
Conheci o Arthur na casa da Beth Carvalho, na festa de lançamento do CD Alma brasileira, do qual tive o prazer de participar com a música Vida de compositor, parceria com meu amigo- irmão Wanderley Monteiro. Na ocasião, eu não sabia o seu sobrenome, mas fui informado de que éramos vizinhos. Ele, morador do “asfalto”, e eu, do “morro”, simultaneamente, construímos o nosso elo: somos do mesmo bairro, o Leme.
Meses mais tarde foi que eu descobri, realmente, quem era aquele senhor respeitoso e carinhoso. Fui convidado por ele a participar de um evento no Sindicato dos Escritores do Estado, que então presidia na Tijuca. Foi neste dia que a ficha caiu: descobri que meu novo amigo era o grande escritor e jornalista, um dos maiores ativistas políticos do nosso País, que os homens da caneta chamavam só de Poerner.
Meu amigo é da noite, eu sou do dia, mas sempre damos um jeito para nos encontrar; geralmente, na Taberna ou na Fiora. Ele é do uísque, eu, do chope. No início da nossa amizade, em nossos bate-papos, eu perguntava muita coisa para ele, queria ouvir seus relatos sobre a prisão e o exílio, assim como sobre a participação dos estudantes no enfrentamento da ditadura. Parecia um encantamento, eu perguntava, ele respondia, e as horas corriam soltas. As noites, para os nossos encontros, sempre ficavam pequenas, os primeiros sinais da madrugada chegavam, rapidamente.
Até que, num deles, resolvi me policiar, não perguntar tanto e deixar “o Cara” mais à vontade. Para minha surpresa, nessa noite foi o Poerner quem me entrevistou. Perguntou tudo sobre o morro, Babilônia e Chapéu Mangueira, suas histórias, suas personagens principais, as agremiações carnavalescas, as associações de moradores... Eu sabia que, através do Arthur, a sociedade poderia receber as informações verdadeiras a que a mídia nunca deu valor. Aproveitei para falar das coisas boas e bonitas do morro, a grande mídia só quer saber de violência, de tragédia e de miséria. Temos que valorizar mais a cultura local. Nós, eu e ele, concordamos que falta no Leme de hoje um espaço público para reuniões culturais e encontros de pesquisadores, intelectuais e estudantes, que possa receber antigos e novos ativistas políticos. Poderia ser um teatro, uma biblioteca, uma fundação ou centro cultural.
O Leme descrito por Arthur Poerner é um livro sublime, poético e, ao mesmo tempo, revelador. Sua leitura envolve-nos, numa intimidade fantástica, com esse recanto maravilhoso, composto de mar, praia, pedras, prédios, um forte, duas favelas, florestas verdejantes e uma gente muito alegre. Intimidade essa, rica em detalhes, peculiar apenas aos integrantes e amigos mais chegados de uma comunidade. Por isso é que o livro ganhou essa personalidade toda, uma visão mais ampla, que não discrimina, que não separa, mas integra pessoas e histórias diferentes numa só composição, cheia de emoção e muito carinho.

Álvaro Maciel

Diretor de Cultura da Associação de Moradores do Morro da Babilônia
agosto de 2009

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Flamenguices e outras paixões





Pergunta que não quer calar: por que o nosso Obina, pescador como São Pedro, esperou chegar ao Palmeiras para ser melhor do que o camaronês Eto'o, do Barcelona, como já cantávamos, premonitoriamente, nos seus tempos de Flamengo, no Maracanã ?