sexta-feira, 1 de abril de 2011

31 de março de 2011, No Portal Oficial da UNE e UBES:

                                    1964: Relembrar é resistir                            

Os anos obscuros começam: sede da UNE em chamasO período que antecedeu o golpe foi conhecido como um grande momento de efervescência política e cultural dosestudantes. Estavam em voga as reformas de base proposta por João Goulart, o primeiro presidente a visitar a sede da UNE. Ferreira Gullar, Vinicius de Morais, entre tantos outros, agitavam o cenário cultural com as produções do Centro Popular de Cultura (CPC).
Mas toda essa esperança traduzida nas músicas, festivais, teatro e poesia foi soterrada por um golpe militar. Uma entidade como a UNE, cuja existência estava intrinsecamente ligada à luta pela democracia, sofria com a incompatibilidade de gênios. Tanto que, iniciado o golpe, uma das primeiras atitudes foi incendiar a sede da UNE, revelando a arbitrariedade que tomaria conta do Brasil. Anos depois, já na década de 80, no apagar das luzes do regime, o antigo prédio foi demolido pelo Governo.
O escritor Arthur Poerner, talvez o maior conhecedor da história do movimento estudantil brasileiro, contou para o Estudantenet o momento que avistou o prédio em chamas. Na época, Poerner era redator do diário “Correio da Manhã” que, no dia 31 de março, ainda não sabia qual seria o rumo do Brasil e das notícias. Na manhã no dia 1º de abril, coincidentemente o dia da mentira, deparou-se com a contraposição de imagens. "Saí de Copacabana e estava me dirigindo à redação. Os prédios luxuosos comemoravam o golpe, havia flores e velas. No caminho, em contrapartida, passei pelo prédio da UNE, em chamas. Foi um panorama lamentável", afirmou.
No livro "Memórias Estudantis", de Maria Paula Araujo, o então presidente da UNE, José Serra, relembra toda situação. "Foi muito difícil, porque uma coisa é você prever, fazer a análise: dois e dois são quatro. Outra coisa é você viver aquilo, você tem de alargar o corpo, não é achar que no fundo aquilo não vai acontecer. Quando aconteceu, parecia um pesadelo, na primeira noite que eu dormi, quando eu acordei, juro, eu pensei que tivesse sonhado! Não aconteceu, não aconteceu foi um sonho ruim... nunca tive essa sensação na vida tão forte quanto nesse caso."
A primeira mulher diretora da UNE, Maria de Nazaré Pedrosa, também recorda o momento no livro: "Aí quando eu olhei estava começando a entrar em chamas a Praia do Flamengo 132. O MAC, os grandes cabeças da reação, do que havia de mais reacionário no Brasil, tinham tanto ódio daquela célula ali, o que representava aquele prédio."