quarta-feira, 10 de abril de 2013

"Militares democratas", o próximo filme de Silvio Tendler


"Militares democratas" , o próximo filme do Silvio Tendler




Arthur Poerner 

Ancelmo. meu querido, olha aí com carinho: o nosso principal 
documentarista político está iniciando seu novo filme, com  tema
da maior importância e, tanto quanto sei, inédito. Vai em 
PRIMEIRA MÃO, com  fraternal abraço do
  Poerner


Silvio Tendler
4 abr (4 dias atrás)
para mim
Preciso te entrevistar para "Militares Democratas". 
Além do seu livro soube que vc foi milico. Como fazemos?
Abraços
Silvio

Em 4 de abril de 2013 22:15, Arthur Poerner escreveu:
Arthur Poerner
20:53 (0 minutos atrás)
para Silvio
Oi, Silvio,

informação correta: tenho no currículo três anos e meio
de Marinha de Guerra, no Colégio Naval e na Escola Naval. 
Fui desligado, em 1960,  por indisciplina: já era rebelde,
mas ainda sem causa, que só passei a ter no ano seguinte,
com a invasão de Cuba, patrocinada pelos EUA, e o assassinato,
também arquitetado pela CIA, do primeiro-ministro congolês
Patrice Lumumba.
     Como já informei na consulta anterior, estarei sempre à 
disposição de qualquer dos seus filmes, no meu único telefone: 
2541.3433,a partir das 18h, porque o trabalho com o meu livro 
de memórias me ocupa até às 12h do dia seguinte: a disciplina
no trabalho é o que restou de melhor da experiência milica; se,
por acaso, eu não atender, deixem mensagem, por favor, 
na secretária eletrônica. Abração saudoso 
                  Poerner  


:

segunda-feira, 1 de abril de 2013

O quase cinquentenário do golpe: "Visita inevitável", de Miriam Leitão


Miriam Leitão 
31 mar (1 dia atrás)
para mim
Querido

Aqui vai o link da minha coluna de hoje sobre 31 de março: Visita Inevitável.
No jornal eles corrigiram profundas por profundezas quando citei seu livro ao falar da Barão de Mesquita
mas é ignorância deles, não minha.
beijo



Enviado por Míriam Leitão - 


31.03.2013
 | 
09h00m

COLUNA NO GLOBO

Visita inevitável

Eu era menina ainda, mas já gostava de notícia. Grudei no rádio e fiquei ouvindo as informações da movimentação das tropas do general Olímpio Mourão Filho. O que eu não podia imaginar, por ser tão criança, é que aquele 31 de março era o começo de um tempo terrível que tiraria vidas da minha geração, produziria dor e obscurantismo, e que 49 anos depois ainda seria difícil revisitar.
Um professor americano me perguntou outro dia porque só agora o Brasil faz a sua Comissão da Verdade, já que a ditadura acabou em 1985. Eu respondi que o Brasil tem problemas de encarar seu passado, é meio atávico esse defeito. E que, de vez em quando, pintamos o cenário com outras cores para aceitar nossos erros, e daí decorrem teses como as da “mild slavery” (escravidão suave). Mas que, felizmente, estamos mexendo no que ficou congelado por um tempo excessivamente longo.
Na mesma semana me ligou Rosa Cardoso, que integra a Comissão da Verdade. E o que ela tinha a contar era muito. Naquele fim de semana (o último) haveria o encontro da Panair para ouvir, pela primeira vez em quase 50 anos, o que houve com a empresa que por perseguição política teve todas as rotas canceladas pelo governo e foi à falência. Ainda assim, os funcionários se reúnem frequentemente, vão com seus crachás para se reconhecerem tanto tempo depois. A empresa pagou todas as dívidas trabalhistas.
A Comissão da Verdade de São Paulo se preparava para ouvir — ouviu na semana passada — o depoimento de Inês Etienne dentro do capítulo de ditadura e gênero. Inês, que sobreviveu à Casa da Morte, tinha sido chamada, junto com outras pessoas, para falar das sevícias sexuais que atingiram tantas prisioneiras.
O corpo de João Goulart será exumado. Os especialistas ouvidos disseram que, talvez, os exames não sejam conclusivos, porque ele pode ter sido morto por um remédio que afeta o coração e que, tanto tempo depois, pode não ter deixado vestígios. A suspeita permanece.
Não há um único torturador que tenha passado um único dia na prisão pelo crime cometido, de tortura, morte e desaparecimento, como o do deputado Rubens Paiva, do estudante Alexandre Vanucchi, do líder Honestino Guimarães, do jovem Stuart Angel, do jornalista Vladimir Herzog, do operário Manoel Fiel Filho. São tantos. É difícil nomeá-los. Esquecê-los, impossível.
Ainda assim, os militares aposentados se reuniram nos seus clubes e acusaram quem hoje busca informações de ser “totalitário”. Repetem a tese de ter havido dois lados. Pois é. Um lado era a juventude encurralada. O outro, o Estado com o poder exercido de forma ilegítima pelos militares, usando a sua força contra quem ousou discordar.A Comissão da Verdade se descentralizou, outras vão se formando para investigar os vários eventos desse tempo que prometeu ser breve e se prolongou por 21 anos. O que fazer com as instalações onde pessoas sofreram e heróis perderam a vida? O antigo Dops do Rio é hoje o Museu da Polícia. Cheio de armas dos vários tempos. Impossível conviver com um memorial que deveria ter. O antigo DOI-Codi funcionava no quartel da Polícia do Exército na Barão de Mesquita, na Tijuca. Lá morreu Rubens Paiva, lá inúmeras pessoas foram torturadas, como Arthur Poerner, que narrou o que viveu num livro com o sugestivo nome de “Nas profundas do inferno”. Angel foi morto na Base Aérea do Galeão. A tortura foi disseminada, foram muitos os locais de sofrimento.
O passado deve passar. Eu, hoje, avó de meus netos, sei quanto tempo me distancia da menina grudada ao rádio em Caratinga naquele 31 de março. Mas minha convicção profunda é que, antes, é preciso cumprir o ritual da dolorosa visita ao passado.

De: Arthur Poerner <arthurpoerner@gmail.com>
Data: 3 de abril de 2013 21:11
Assunto: Visita inevitável


Olá, Míriam,
muito obrigado; eu já havia lido o oportuno texto, mas a versão digitalizada sempre facilita o arquivamento e, no caso, a merecida divulgação. Mais importante, contudo, foi o seu discernimento ao deixar, por algumas horas, a economia de lado, para falar, na data certa, de um acontecimento que marcou, negativamente, as nossas existências; no meu caso pessoal, levou-me à decisão que hoje considero a fundamental da minha vida: a de ser contra a ditadura desde o golpe militar que a inaugurou. Como o sucesso de qualquer decisão quase sempre depende de uma pitada de sorte, tive a minha, pois era redator do Correio da Manhã, que também se posicionaria contra alguns dias depois de haver apoiado a derrubada de Jango. Foi por isso que eu receberia dois anos depois, aos 26 de idade, o título de que tanto me orgulho, de mais jovem cassado pela ditadura.
Mas, como naquele samba do Monarco - "...se for falar da Portela, hoje não vou terminar..." -, se for falar dos horrores que se seguiram àquela data, hoje eu também não terminaria esta mensagem, que é só para agradecer-lhe a gentileza e parabenizá-la pela iniciativa. Beijo do
Poerner




Miriam Leitão
3 abr (1 dia atrás)
para mim
Oi querido

E eu expedi aqui um mandato de busca e apreensão para saber quem tinha posto na versão impressa "profundezas" em vez de profundas e tinha sido a minha assistente.
Esses moços, pobres moços...
Recebi um monte de mensagem de milicos e simpatizantes me criticando pela coluna.
Eles pensam que ainda tem dentes.
Obrigada pelo carinho
miriam