terça-feira, 24 de setembro de 2013

Mãe Stella na Academia de Letras da Bahia

   
     Mãe Stella de Oxóssi é a primeira dignitária, como ialorixá, a receber honras acadêmicas neste país ainda em parte refratário ao pleno reconhecimento da inestimável contribuição africana à nossa formação cultural e, portanto, nacional. Ela tomou posse, no último dia 12, na Academia de Letras da Bahia, na vaga do precocemente falecido historiador baiano Ubiratan Castro. O patrono da cadeira é, sugestivamente, ninguém menos do que o grande Castro Alves, um dos maiores expoentes do romantismo na nossa literatura, que se imortalizou, com a sua genialidade poética, na luta contra a escravidão, causa a que dedicou os seus poucos anos de vida.

     Enfermeira sanitarista durante 35 anos, aos 88 de idade, Mãe Stella, com humildade, declarou  não se considerar  escritora, mas " uma ialorixá que escreve", sobretudo para preservar a herança cultural iorubá (nagô), restrita à memória oral, no Brasil. Bisneta de portugueses e africanos, ela é a quinta dirigente do centenário Ilê Axé Opô Afonjá, o famoso candomblé de Salvador fundado, em 1910, por Mãe Aninha, e consagrado a Xangô (Afonjá é um título de Xangô nos candomblés).
   
     Uma das  antecessoras de Mãe Stella, Mãe Senhora, que a iniciou, se destacou pela habilidade política, com a qual teria influenciado a decisão do presidente Getúlio Vargas de pôr fim à sistemática repressão policial que os cultos afro-brasileiros sofriam até as primeiras décadas do século passado. Foi também Mãe Senhora quem promoveu uma aproximação do candomblé com ilustres personalidades do nosso mundo cultural, como Jorge Amado, Antonio Olinto, Pierre Verger, Caribé e tantos outros. Esta aproximação foi peça importante na luta pela democratização racial, étnica e religiosa, assim como contra o racismo, que ainda se manifesta com violência, por parte de algumas seitas evangélicas, em investidas sobre terreiros de algumas comunidades pobres do Rio de Janeiro.

     Não posso deixar de acrescentar que saí muito bem impressionado da visita que fiz ao Ilê Axé Opô Afonjá, programa que recomendo a todos, sem distinção de crenças ou religião.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Alfredinho setentão

   
    Domingo de culto à amizade: depois de assistir pela tevê a mais uma sofrível exibição do Flamengo no Campeonato Brasileiro - menos mal porque, já no finalzinho, conseguiu arrancar um empate da Ponte Preta, em Campinas -, corri à sede do meu segundo clube de coração, o Botafogo dos inesquecíveis amigos Garrincha e Didi, onde outro amigo querido, o Alfredinho do Bip-Bip, chegava aos 70 com uma feijoada que já tinha acabado, depois de servidas quase oitocentas. Acabou o feijão, mas não o samba, que se estendeu pela noite, como fundo musical para reencontros como o que tive com o engenheiro pernambucano Alfredo Lopes Filho. Ex-exilado na Suécia, onde nos conhecemos, ele me lembrou das palestras que fiz em Estocolmo e Lund. Na foto, apareço entre os dois Alfredos.


terça-feira, 10 de setembro de 2013

Reencontro com a Portela

 
    Foi de grande significado para mim, no domingo, a volta à quadra da Portela, escola de samba que é parte importante da minha vida cultural e afetiva. Maior ainda a emoção, porque a reencontrei sob a presidência do recém-eleito Serginho Procópio, que conheci menino, filho do saudoso amigo Osmar do Cavaco, da turma de músicos mais próximos do grande e inesquecível Candeia, meu parceiro em duas músicas, gravadas pela Cristina Buarque. Ou seja, a Portela também de volta ao melhor da sua história e das suas tradições. As fotos são do meu último desfile, com a Velha Guarda, em 2004.

FOTO: Luiz Morier - 22.02.2004

JB Digital (Caderno de Carnaval) - 22.02.2004 - FOTO: Paulo Jares

JB Digital (Caderno de Carnaval) - 22.02.2004 - FOTO: Fernando Rabelo

domingo, 8 de setembro de 2013

Dilma ante a espionagem dos EUA

 
    Na bela São Petersburgo, que, durante o meu exílio, conheci como Leningrado - que senhor museu, um dos mais importantes do mundo, é o Ermitage, no Palácio de Inverno ! -, a Dilma não disfarçou a indignação ante a espionagem dos seus telefonemas, e-mails e até mensagens de celular pelo governo dos EUA, país que, afinal, se declara, em todas as ocasiões, amigo e aliado do Brasil.
    Na realidade, um flagrante (e clamoroso, acrescento) desrespeito à nossa soberania nacional, como declarou o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. A presidenta também não escondeu que o atentado à sua privacidade pessoal e ao Brasil colocou em risco o encontro que teria com Obama em outubro, nos Estados Unidos.
   Começo a não ter mais dúvida de que Edward Snowden, o jovem técnico da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) responsável por esta e tantas outras denúncias, ainda vai ser aclamado como benfeitor da Humanidade. Quando menos, pelo desmascaramento da hipocrisia diplomática.