segunda-feira, 30 de abril de 2012

"Repressão e resistência"






4ª. CAPA – TEXTO

          Repressão e resistência discute, a partir de documentos de arquivos oficiais, a censura a livros durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). Com base em pareceres de censores e descrevendo minuciosamente os caminhos da proibição, Sandra Reimão analisa diferentes casos de veto ocorridos no período.
          O estudo aqui publicado concentra-se em casos relativos a livros de ficção, entre eles, Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, e Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, mas não deixa de mencionar também livros considerados pornográficos, como os de Adelaide Carraro e Cassandra Rios, e também relevantes obras de não ficção, a exemplo de A Revolução Brasileira, de Caio Prado Jr., e História Militar do Brasil, de Nelson Werneck Sodré.
          Reconstituindo episódios, a autora acaba por desvendar mecanismos, motivações e objetivos da censura que nem sempre eram aqueles explicitados pelos órgãos de repressão.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

O grande Ismael

Para: coluna.ancelmo@oglobo.com.br                                                13 de abril de 2012

Alô, Ancelmo,

imprudente e temerária a certeza do Paulo Lins quanto à homossexualidade do principal criador e fundador do samba, Ismael Silva, de quem me tornei amigo na segunda metade dos anos 60. Ele ia com frequência esperar-me à saída do Correio da Manhã, à Av. Gomes Freire, 471, para uma saideira de conhaque Dreher regada à cerveja (tinha que ser Antarctica, com o depois do erre e casco obrigatoriamente escuro) num boteco que, se não me engano, ainda existe na esquina da Riachuelo, onde eu depois pegaria o ônibus para casa. Sempre de terno de linho e sapatos brancos e gravata vermelha, andava devagar, com os pés voltados para fora, atormentados pelos cravos que os machucavam nas solas. Quando alguém o inquiria sobre a vida afetiva, referia-se a uma noiva - ficcional, presumo, pela risada malandra que acompanhava a confidência - para a qual estaria preparando um enxoval no quarto em que morava ali ao lado do botequim.
      Depois que fui preso e deixei o país, recebi no exílio um cassete em que ele falava da retomada da carreira, com os discos "Se você jurar" e "História da MPB", da Abril. Ismael foi, com o Otto Maria Carpeaux e o meu parceiro portelense Candeia, um dos três amigos mais próximos que não pude reencontrar ao voltar com a anistia.  Em anos de contatos quase diários, jamais pude perceber nele qualquer inclinação à homossexualidade. Nada contra, evidentemente, se a tivesse.
     Com os afetuosos abraços do 

                                            Poerner