terça-feira, 19 de novembro de 2013

Delcio Carvalho, um clássico do samba



     Mal havia republicado o apelo por doação de sangue para o Delcio Carvalho, quando recebi a notícia da sua morte, aos 74 anos, vitimado por um câncer, no último dia 12, terça-feira passada. Grande compositor e sambista, era uma doce pessoa, sempre gentil, bem-humorado e bom de papo, geralmente ladeado pela companheira, Bertha, filha do famoso médico Noel Nutels, que se notabilizou como sanitarista das populações do interior do país, especialmente dos indígenas.
     Natural de Campos e filho de músico, Delcio chegou ao Rio, aos 16/17 anos, para morar com um tio no Morro do Querosene, no Catumbi, e encontrou os seus primeiros parceiros no Cais do Porto, antes de compor, como letrista ou melodista, com Zé Kéti, Nei Lopes, Wilson das Neves, Agenor de Oliveira, Mário Lago Filho, Maurício Tapajós, Jorge Simas, Elton Medeiros, Noca da Portela, Carlos Cachaça, Mauro Duarte, Ivor Lancelloti e, sobretudo, Dona Ivone Lara, alguns clássicos do samba, como "Sonho meu" e "Acreditar". Completou neste ano 50 anos de carreira, talvez menos conhecido pelo nome do que algumas das suas composições,  gravadas por renomados intérpretes como, entre outros,  Elizeth Cardoso, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Clara Nunes, Elza Soares, Beth Carvalho, Gal Costa, Nara Leão, Marisa Gata Mansa, Alcione, Maria Creuza, Clementina de Jesus, Noca da Portela, Roberto Ribeiro, Miltinho, Jair Rodrigues e Martinho da Vila.
     Meu último encontro com o Delcio foi na Fiorentina, já faz alguns meses, sem que desse mostras de estar doente. Amanhã, quarta, às 17h, vai ser a missa de sétimo dia, na Igreja de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado. Merecerá sempre ser prestigiado.

sábado, 9 de novembro de 2013

"Brutal euforia flamenga"


     Da minha própria filha, Joyce, que criei com leite de urubu e constantes e sempre educativas visitas ao Maracanã, só poderiam mesmo vir contribuições deste nível, com o grande Nelson Rodrigues, fundamental na minha formação de jornalista e escritor, apesar e acima das nossas divergências clubísticas e ideológicas. No início dos anos 60, quando incorporei à rotina diária a leitura de jornal com o primeiro café da manhã, o Nelson veio junto, com "A vida como ela é".

Comemoração da Revolução de 1917, na Lapa



     Ontem, na reunião do "Algo a Dizer", no Arco Iris da Mem de Sá (Lapa). Com Kadu Machado e Marcelo Barbosa, entre outros, comemorando o 96º aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro, em 1917.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Maurício Azêdo: um rombo nas forças democráticas


Para Marilka
    
      Mais do que a costumeira 'lacuna' dos obituários e preitos fúnebres, a morte do jornalista Maurício Azêdo, meu querido amigo e presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI),  deixa um rombo nas forças democráticas e progressistas do país, em que ele, como os expoentes da nossa geração, despontou em meados dos anos 60, na resistência à ditadura militar.
     Com o progressivo desmantelamento pelo regime das lideranças e dos partidos políticos, assim como dos movimentos sociais, logo nos restariam, das organizações até então atuantes, somente a UNE e o PCB. Nós, Azêdo, eu e muitos jovens jornalistas, optamos pelo chamado 'Partidão', que nos propunha algo de bem racional: o caminho da luta de massas. Por isto, nossa palavra de ordem nas passeatas era "Só povo organizado derruba a ditadura". As únicas alternativas da época eram a troca do adjetivo por armado, o protesto filosófico-comportamental dos hippies, a desmoralizante inércia política ou, a pior de todas, o desbunde das drogas.
     Azêdo, como sempre preferi chamá-lo, escrevia muito bem, mas o que mais me chamava a atenção nele era o seu insaciável apetite pelo trabalho, o seu lado pé-de-boi. Impaciente e acionado por alguma força interna - uma úlcera, ao que se especulava -, não hesitava, por exemplo, em chamar a si partes de uma tarefa coletiva que cabiam a companheiros mais lentos ou contemplativos. Tive a oportunidade de comprová-lo no dia-a-dia do semanário de oposição Folha da Semana, lançado em setembro de 1965, do qual me tornei diretor dois meses depois, para substituir o advogado Alfredo Tranjan, que renunciara à função com a edição do Ato Institucional nº 2, o da extinção dos 13 partidos políticos então existentes.
     Todos ali, Sérgio Cabral, Luiz Mário Gazzaneo, Leandro Konder, Ferreira Gullar, Otto Maria Carpeaux, Alex Viany, Anderson Campos, José Carlos Avelar e tantos de que não me lembro de imediato, contribuímos para o cumprimento dos objetivos primordiais deste semanário inaugural da chamada imprensa alternativa pós-golpe militar: denunciar as violências da ditadura e clamar pela democracia. Tão bem, aliás, que o jornal mereceu fechamento por um garboso comando de fuzileiros navais, em dezembro do ano seguinte, quando eu já fora deposto, em julho, pelo decreto presidencial que me suspendera os direitos políticos. Mas, quem sempre 'carregou o piano', dando mais do que a sua cota - tínhamos que reconhecer -, foi o Azêdo, que seria preso e torturado em 1976.
     E ele continuou sendo assim, coerente e fiel à sua consciência e aos seus princípios, um guerreiro pela democracia e intransigente defensor da liberdade de expressão, até o final, aos 79 anos, na sexta-feira passada: nos inúmeros jornais em que exerceu as mais diversas funções da profissão, de repórter a diretor de redação; como militante e vereador do PDT; presidente  da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro; conselheiro do Tribunal de Contas do Município; e nos mandatos em que honrou as melhores tradições e lembranças de Barbosa Lima Sobrinho na presidência da ABI, onde encontrou vasto campo de atividades para a sua porção pé-de-boi, inclusive como um dos editores, ao lado do Francisco Ucha, do excelente Jornal da ABI.
     Morreu de insuficiência cardíaca no Rio, no Hospital Samaritano, em Botafogo. Deixa inconsoláveis a também incansável companheira Marilka, sempre ao seu lado, inclusive no trabalho, as duas filhas que teve com ela e os dois do primeiro casamento;  assim como inconformada, a incontável legião de amigos e admiradores, em que tenho o orgulho de me incluir.


Na eleição de abril deste ano, em que foi mais uma vez reeleito para a presidência da ABI, Azêdo aparece comigo e com o Sérgio Caldieri.