quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Prefácio para "De mel e tempestade", livro de poesia de Vera Curi

                                                                                        

                                     Poemas de luzes e sombras




Com seu “salto novo de aprendiz de poeta”, ela dá notícias de si e da sua trajetória, mesmo sabendo de antemão que “minha manchete dos escombros dos quais vivo não foi aprovada como pauta”. Depois de concluir a leitura dos quase sempre ansiosos e por vezes angustiantes poemas deste livro, acho que o “aprendiz” é excesso de humildade da poeta ou, ainda, de recato da diligente e zelosa repórter que ela foi na Última Hora, na Fatos e Fotos e no Inverta. Porque, para mim, aprendizado, no caso, só se for aquele que estamos condenados a exercer pela vida afora, inclusive nos nossos ofícios. Afinal, somos, todos, queiramos ou não, eternos aprendizes.

Vera Curi, artista plástica talentosa e devidamente laureada, resolveu pintar em poemas ou emoldurar com palavras o que lhe pareceu não caber nas suas telas. Mas, seria possível, por exemplo, expressar com o pincel a dor e o desespero de mãe ao perder, de maneira especialmente trágica e inesperada, sua única filha, Alessandra, de 30 anos ? “Ouço teus passos ? Ou o vento insiste em me lembrar ???/ Quando pincelavas o verniz nas madeiras/ e borboletas amarelas e brancas a te enlaçarem/ nem sentiam o cheiro forte de solvente,/ parecias uma pintura de Auguste Renoir.”

É uma poesia que nos remete, em certos momentos, ao impressionismo de alguns dos quadros do pintor francês, pelas manchas de luz e de sombra de uma alma dilacerada pela irremediabilidade de uma perda. “Em pleno século XIX, distante do tempo,/ no tempo do celular piscando.../ Entro em casa e na sala a realidade da TV de plasma/ me assusta e você não vem...”

Poemas como cores e sons de uma angústia.


                                                                                    Arthur Poerner

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