Da carteira assinada ao exílio em sete anos
Arthur Poerner
Cheguei à
imprensa em 1962, no Jornal do Commercio,
mas só em 1º de outubro do ano seguinte, dia em que completava 24 anos, me
tornei jornalista na carteira de trabalho, como redator do Correio da Manhã, no copidesque. Eu não podia imaginar o quanto
aquele presente de aniversário iria acelerar a minha carreira alguns meses
depois, quando o golpe militar guindou o intrépido diário carioca à liderança
da resistência à ditadura na imprensa.
Abatido pelo
golpe, que contara com o beneplácito de três editoriais do jornal contra o
governo do presidente João Goulart, eu me surpreendi, dois ou três dias depois,
numa das principais trincheiras de combate à opressão. Era só seguir a
orientação de um quarto editorial, “Basta, fora a ditadura !”, escrito pelo
Otto Maria Carpeaux, e a trilha inaugurada pelo Carlos Heitor Cony com o artigo
“O ato e o fato”; e manter ouvidos, mente e coração abertos para as denuncias
dos desmandos e das violências que nos traziam as vítimas da repressão.
Virei articulista
e, como repórter especial, fui ao Uruguai, para entrevistar Leonel Brizola e
outros exilados brasileiros, e à Argélia, para acompanhar a chegada ao exílio
de Miguel Arrais. Sem deixar nem reduzir o trabalho no jornal, assumi a direção
do semanário alternativo comunista Folha
da Semana e publiquei os meus dois primeiros livros pela Civilização
Brasileira; um deles, Argélia: o caminho
da independência, com prefácio do Carpeaux.
Se correu tudo
bem ? De minha parte, acho que sim. A ditadura deve ter achado que corria bem
demais, porque, em 05 de julho de 1966, aos 26 anos e com menos de três de
carteira assinada, ouvi na redação, pelo “Repórter Esso”, o decreto do
marechal-presidente Castello Branco que suspendia os meus direitos políticos
por 10 anos. O que, dessa vez, não me abateu nem calou, graças, inclusive, ao
apoio e à solidariedade dos colegas. O redator-chefe, Antônio Callado, chegou a
escrever um artigo em que, com a sua britânica ironia, dizia sentir-se
injustiçado, como veterano na imprensa, por ainda não haver recebido a
“comenda” a que eu fizera jus com menos de quatro anos de jornalismo. Por isso,
continuei a participar daquela luta pela democracia, que ainda incluiria uma
rocambolesca fuga pelas janelas do diário, com os colegas Franklin de Oliveira
e Edmundo Moniz, na noite da decretação do AI-5, quando o jornal foi invadido
por forças policiais e militares.
A minha saga pessoal no Correio da Manhã se encerrou no início de abril de 1970, quando,
com o jornal já silenciado e arrendado a um grupo de empreiteiros, fui preso na
redação e encarcerado por mais de 3 meses no quartel da PE do I Exercito, na
Tijuca, o que tornaria impossível a minha permanência no país; a do jornal, que
teria completado 110 anos de fundação em 15 de junho de 2011, acabou em 09 de
junho de 1974, quando deixou de circular.
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